Rumpilezz lança primeiro trabalho após morte de Letieres Leite
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Rumpilezz lança primeiro trabalho após morte de Letieres Leite

Morto subitamente em outubro do ano passado aos 61 anos, o maestro Letieres Leite já havia concluído as gravações de mais um álbum da Orkestra Rumpilezz, grupo fundado por ele em 2006. Moacir de Todos os Santos, o terceiro disco da Rumpilezz, chega às plataformas de música de música na virada de hoje para amanhã, à meia-noite.

O lançamento é uma regravação de sete faixas de um dos álbuns instrumentais mais importantes da música brasileira, Coisas, do pernambucano Moacir Santos. Lançado em 1965, o LP de sambajazz tinha dez faixas, todas chamadas de Coisa, acompanhadas apenas de um número para diferenciá-las: Coisa Nº1 até Coisa Nº 10.

Sylvio Fraga, que divide com Pepê Monnerat a produção de Moacir de Todos os Santos, diz que Letieres era “apaixonado” pela obra do pernambucano:

“Ele dizia que Coisas era o Kind of Blue [álbum clássico de Miles Davis] do Brasil. Letieres conhecia o Coisas tão bem, que escreveu os novos arranjos sem sequer precisar consultar os originais”.

Embora o Coisas já fosse carregado de características brasileiras, Letieres, segundo Sylvio, fez questão de aprofundar ainda mais isso. “Ele fez isso de maneira consciente e criou uma conexão entre quatro maestros brasileiros: Pixinguinha, Moacir Santos, Paulo Moura e o próprio Letieres. Moacir de Todos os Santos representa uma missão na vida de Letieres e é uma maneira simbólica de fazer essa conexão entre quatro maestros negros brasileiros”.

Sylvio, além de produtor, é ainda sócio da gravadora Rocinante, que está lançando o álbum também em vinil. Todos os trabalhos gravados na Rocinante são projetados para LP, então Letieres precisou fazer uma seleção de apenas sete faixas para que coubessem no formato.

Para se ter uma ideia da importância que a Rocinante deu à gravação de Moacir de Todos os Santos, a empresa decidiu reformar o estúdio para abrigar, em 2019, os mais de 20 músicos da Rumpilezz, além do maestro.

“Construímos três salas para acomodar a Orkestra. Precisava da reforma para que Letieres pudesse reger de frente para os músicos, que era  maneira como devia ser feito”, diz Sylvio.

A gravação foi toda ao vivo em estúdio, com 22 músicos.

Apenas as participações de Caetano Veloso e de Raul de Souza foram gravadas separadamente. Caetano canta na faixa Nanã – Coisa nº 5, que tem letra em inglês, segunda língua de Moacir, que viveu nos EUA desde 1967 até sua morte, em 2006, aos 80 anos. No Coisas de 1965, não havia letra. Mais tarde, ganhou versões cantadas, como a de Wilson Simonal em 1964 e a do próprio Moacir, em 1972.

Raul, um dos maiores trombonistas do mundo, faz um solo em Coisa Nº 4, nesta que, segundo Sylvio, talvez tenha sido a última gravação do músico, morto em junho do ano passado aos 86 anos. O instrumentista gravou com Baden Powell, Sivuca, Sérgio Mendes, Milton Nascimento e outros importantes artistas.

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O resultado do álbum entusiasmou Letieres, que chegou a ouvi-lo exatamente como o público vai conhecer.  Além do disco, as gravações renderam um documentário, que leva o mesmo nome do álbum e será exibido hoje no Canal Arte1, da TV por assinatura. A direção é de João Atala, Michael Atallah e Sylvio Fraga.

“No documentário, ele fala muito sobre essa missão que este álbum foi para ele. Era uma missão de vida, para colocar a música negra brasileira em seu devido lugar. Essa música que veio dos escravizados e que está no cerne da música brasileira”, diz Sylvio.

O percussionista Tiago Nunes, que integra a Rumpilezz, se identifica como “músico de rua” em sua origem. Filho e sobrinho de percussionistas, aprendeu por intuição. Mas reconhece a importância de Letieres em sua formação: “É o meu pai musical. Me apresentou a música instrumental, que eu já tocava, mas ele me mostrou novas possibilidades como percussionista”, diz, em tom de agradecimento.

Para outro músico da Rumpilezz, Luizinho do Jêje, Letieres deu “moral” aos percussionistas, como ele próprio. “Tanto que a gente fica de terno e gravata na frente. Ele sempre começou a produção dos discos pela ‘percussa’. Letieres sempre levantou essa bandeira pela percussão. Desde o trabalho dele com Ivete [Letieres produziu gravações de Ivete Sangalo], ele gravava a percussão primeiro. Depois, é que gravava naipe de metais, bateria, guitarra…

 

Por Correio24h

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